sexta-feira, 9 de março de 2012

De volta ao primeiro amor






"Nem faz tanto tempo assim, as pessoas diziam vosmecê. “Vosmecê concede a honra desta dança?” Com o tempo, fomos deixando a formalidade de lado e adotamos uma forma sincopada, o popular você. “Você quer ouvir uns discos lá em casa?” Parecia que as coisas ficariam por isso mesmo, mas o mundo, definitivamente, não se acomoda. Nesta onda de tornar tudo mais prático e funcional, as palavras começaram a perder algumas vogais pelo caminho e se transformaram em abreviaturas esdrúxulas, e você virou vc. “Vc q tc cmg?”
Nenhuma linguagem é estática, elas acompanham as exigências da época, ganham e perdem significados, mudam de função. Gírias, palavrões, nada se mantém os mesmos. Qual é o espanto? Espanto, aliás, já é palavra em desuso: ninguém mais se espanta com coisa alguma. No máximo,ficamos levemente surpreendidos, que é como fiquei quando soube que um dos canais do Telecine iria abrir um horário às terças-feiras para exibir filmes com legendas abreviadas, tal qual acontece nos chats. Uma estratégia mercadológica para conquistar a audiência mais jovem, naturalmente, mas e se a moda pegar? Hoje, são as legendas de um filme. Amanhã, poderá ser lançada uma revista toda escrita neste código, e depois quem sabe um livro, e de repente estará todo mundo ganhando tempo e escrevendo apenas com consoantes – adeus, vogais, fim de linha pra vocês. O receio de todo cronista é ficar datado, mas, em contrapartida, dizem que é importante este nosso registro do cotidiano, para que nossos descendentes saibam, um dia, o que se passava nesta nossa cabecinha jurássica. Posso imaginar, daqui a 50 anos, meus netos gargalhando diante deste meu texto: “ctd d w”. Coitada da vovó mesmo. Às vezes me sinto uma anciã, lamentando o quanto a vida está ficando miserável. Não se trata apenas dos miseráveis sem comida, sem teto e sem saúde, o que já é um descalabro, mas da nossa miséria opcional. Abreviamos sentimentos, abreviamos conversas, abreviamos convivência, abreviamos o ócio, fazemos tudo ligeiro, atropelando nosso amor-próprio, nosso discernimento, vivendo resumidamente, com flashes do que outrora se chamou arte, com uma ideia indistinta do que outrora se chamou liberdade. Todos espiam todos, sabem da vida de todos, e não conhecem ninguém. Modernidade ou penúria? As vogais são apenas cinco. Perdê-las é uma metáfora. Cada dia abandonamos as poucas coisas em nós que são abertas e pronunciáveis". 

O texto acima da cronista Martha Medeiros, eu estava lendo ele hoje e comecei a pensar que estamos fazendo exatamente isso da nossa relação com D'us - "abreviando". Não temos mais tempo para estarmos em comunhão com Ele, não temos mais tempo pra falar com Ele, não temos tempo pra falar D'Ele, não temos mais tempo para vivê-Lo. É preciso "resetar nosso HD" e instalar novamente o programa: "Dependência de D'us", onde o homem volta a ter a vida abundante e completa, sem abreviações ou pressa, ao lado do D'us Eterno Criador do universo! Que a única abreviação permitida em nossa vida seja a do tempo para que o nosso Senhor Jesus Cristo volte logo! D'us nos abençoe.



Rosana Márcia.